O Cinema como Referência na Moda

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O Cinema como Referência na Moda

No começo do século passado, alguns imigrantes descobriram que fazer cinema poderia ser um negócio muito lucrativo. A Califórnia, região mais ensolarada e menos chuvosa dos Estados Unidos foi eleita como o lugar ideal para a rodagem dos filmes, que eram, até então realizados ao ar livre. Nesses passos iniciais, os filmes contavam pequenos historias, que podia ser um simples beijo ou um roubo de um trem. Situações hilariantes começaram a ser filmado, nascendo assim o avô das comédias.

Não havia ainda o conceito de ator. As pessoas eram contratadas para realizarem uma determinada ação e um diretor (que ao que tudo indica nasceu antes do ator) indicava como a ação deveria se desenrolar.

Fazer cinema era apenas um negócio, com a permanência das mesmas pessoas nos filmes, o público fiel começou a identificar aquele mocinho ou aquela mocinha. Nascia assim a ideia de ator, ao mesmo tempo o conceito de fã e a interação com a plateia.

Os filmes ficaram mais longos e os atores, passaram a ser estrelas. Sem nem um pudor, o cinema usava e abusava de estereótipos. O mocinho, o bandido, a mocinha. As histórias eram sempre as mesmas e os personagens também. Bem mais rápido do que se imaginava a febre de cinema alastrou-se pelos Estados Unidos e o negócio passou a ser uma fábrica de fazer dinheiro. Não demorou muito para que os atores descobrissem sua magia perante o público e a categoria de estrela estava verdadeiramente implantada. Detalhe, isso tudo aconteceu no silencio do cinema mudo.

 


Nomes até hoje lembrados escreveram a história do cinema. Imortal se tornou Rudolph Valentino, morto precocemente, foi talvez o primeiro ator a ser imortalizado pelo cinema. As leading-ladies se enfileiram: Theda Bara e Póla Negri fazendo mulheres fatais.


Gloria Swanson passando da comedia aos romances, mas a rainha absoluta do período foi a namoradinha da América, Mary Pickford, que se casou com o também ator Douglas Fairbanks criando a primeira dinastia do cinema.

Essas mulheres normalmente usavam seus próprios vestidos nos filmes. Até a década de 30, os extras eram contratados por dia, usando seus próprios trajes ou de seus tipos físicos: Contratava-se no dia, tantos negros, gordos, magros etc.

Não demorou muito para que as estrelas incluíssem em seus contratos o pagamento das roupas que elas usariam nos filmes. Ainda, sem nenhuma preocupação de adequação de figurino ao filme, o figurino sim, era adequado à estrela que o usava. Da ousadia de Theda Bara aos pudores de Mary Pickford, tudo era criado para servir a criatura.

 


Mesmo quando um filme retratava uma época, sacrilégios eram cometidos, mas a imagem da estrela era preservada a qualquer custo. Nessa época dificilmente um crédito era dado a um figurinista, que já eram regiamente pagos por seus trabalhos. Sendo Hollywood um mundo inteiramente comercial, custou pouco para que os estúdios percebessem o poder da imagem de seus pupilos e como poderiam ser lucrativos na venda de todo e qualquer produto.

Hollywood vende sonhos e junto com eles tudo que se podem consumir. Como o Cigarro, o cinema mostrava o que fumar era chique e glamoroso. Bette Davis usava o cigarro e a fumaça de uma maneira brilhante para suas cenas. E depois que Paul Henreid acendeu dois cigarros de uma só vez e deu um para ela, a coisa virou mania. Se o cinema vendia tudo, também passou a vender moda. Lançada a moda nos filmes, os grandes magazines copiavam os modelos e a vendagem atingia cifras assustadoras.

 


Rapidamente as lojas de departamento acordaram com os estúdios para obter os modelos antes do lançamento dos filmes, estando a um passo adiante da concorrência.
Nas décadas, de 30 a 50 o cinema era a referência de moda para o Brasil. As revistas eram raras (e caras) e mesmo assim publicavam fotos das estrelas e reproduziam seus figurinos.
Nos anos cinquenta, Hollywood descobre que um nome da moda ligada ao filme podia dar mais publicidade.

Assim como Chanel, Chistian Dior foi introduzido no cinema por Alfred Hitchcok, Em Pânico nos Bastidores. Amigo pessoal de Madene Dietrich, Dior fez todo seu figurino para o filme. Mas mesmo assim nunca chegou a criar um ícone como Givenchy.

Quando Billy Wilder foi rodar Sabrina, sua heroína deveria passar uma temporada em Paris e voltar glamourizada. Indicado pela mulher de Wilder, Audrey foi procurar auxilio em um novo costureiro: Hubert de Givenchy. Audrey se tornou símbolo de elegância em todo o mundo. Givenchy também vestiu Elizabeth Taylor.

 


Yves Saint-Laurent, sucessor de Dior, também contribuiu para o cinema e na falta de Audrey, Caterine Deneuve foi sua musa, mas sem o mesmo brilho da gazela.
A fase dos grandes nomes nos créditos foi ficando démodé e os figurinistas continuaram em seus postos. Hoje a moda usa as estrelas para aparecer na mídia através de eventos. O Oscar e Cannes são palcos ideais para exibirem seus modelos.

 


Nos anos trinta as estrelas já tinham seus fãs e seus estilos eram copiados mundo a fora. Numa constelação de nomes, Jean Harlow a loira platinada é a bola da vez. Ousada, Harlow foi o manequim perfeito para as mais sedutoras criações de Adrian e Dolly Tree. Seus vestidos, as vezes costurados no próprio corpo impediam o uso de calcinhas ou soutien. E os decotes, iam além da imaginação. Mais que pelas roupas, pois poucas tinham coragem de ousar com a loira. Jean foi imitada pelo loiro platinado de seus cabelos. Harlow inaugurou a lista das loiras no cinema, que décadas depois daria ao mundo Marilyn Monroe. Em uma época mais favorável, Marilyn foi mais imitada pelas mulheres. Graças a um vestido frente única, de saia plissada, branca.

 


Brigitte Bardor nos anos sessenta, era tudo que se imaginava de fashion. Displicente, com ar de ex-lolita à francesa, hoje defensora dos animais foi copiado à exaustão, quer pelos seus cabelos longos ou pela sua sensual boca repleta de brilho e batom. E tantos outros exemplos…
Ao que parece o cinema apenas influenciava a moda feminina, mas os homens também foram observados e seguidores de tendências lançadas nas telas.

Na década de 30, Clark Gable em uma cena de “Aconteceu Naquela Noite” ao se despir mostra que não usava a clássica camiseta branca padrão da época. Neste período a venda das mesmas teve uma queda significativa nos Estados Unidos. A mesma camiseta anos mais tarde foi redescoberta por outros ícones do cinema americano: Marlon Brando e James Dean.

 


Na década de 40, o Brasil exportou para Hollywood e de lá para o mundo, Carmem Miranda. Ninguém chegou a imitar os turbantes ou os abacaxis na cabeça, mais já os seus sapatos com alta plataforma invadiram o mercado. Anos antes, uma atriz francesa, radicada em Hollywood foi responsável pelo aparecimento de um sapato feminino até hoje em nossas vitrines: Anabella.

 


O cinema também tentou fazer o caminho na contramão, trazendo personalidades das passarelas para o cinema, mas na época não emplacou muito, pois não eram boas atrizes.
Todo estúdio tinha um departamento de publicidade de inventar uma história que mostrasse a estrela da maneira mais doce e aceitável pelo padrão americano de vida. Datas eram forjadas, lugares de nascimentos alterados e principalmente todas ganhavam uma escolaridade que nunca tiveram. Enfim, todos eram bonzinhos e merecedores de prêmios.

Chegavam a forjar uma história, também chegavam a forjar uma imagem.
Dentes eram trocados, orelhas reparadas, narizes diminuídos e ao que tudo indica o visual era mais aplicado no rosto. Se o silicone já estivesse em uso nessa época, o soutien teria outra história para contar. Refeita a imagem da estrela, faltava o seu guarda-roupa. Essa tarefa era entregue aos chefes do departamento de figurinos de cada estúdio que passava a ser mentor da estrela.